24Sep

A Agenda Executiva conversou com os especialistas Ricardo Castagna, Armando de Oliveira Costa Neto e Renato Torres da Silva para entender como as redes sociais impactam o compliance e as lideranças do alto escalão.

Nas últimas semanas, o noticiário voltou-se ao C’Level ao mostrar casos de lideranças que foram desligadas das empresas, não por problemas com resultados ou metas, mas sim por condutas que feriram as regras de compliance. Apesar de as situações serem diferentes entre si, todas elas tiveram um elemento em comum que potencializou os desligamentos: as redes sociais.

Por isso, para além de ser uma ferramenta de conexão, as redes sociais trazem também o seguinte debate: qual o limite entre o público e privado e como este limite afeta as regras do Compliance e a atuação profissional?

Exposição reputacional

Renato Torres da Silva, Diretor de Riscos da Crowe Macro Brasil, explica que “as redes sociais introduziram um novo vetor de riscos que vai além dos controles tradicionais de compliance. Se antes as preocupações estavam mais concentradas em áreas como integridade financeira, anticorrupção e governança documental, hoje é imprescindível considerar também a exposição reputacional em ambientes digitais.”

Já Ricardo Castagna, Advogado, professor titular de Direito Tributário e Behavioral Law do CEU Law School e Coordenador do Curso de Direito da Faculdade Belavista, ressalta que, com as redes, fica mais difícil manter a confidencialidade de informações sigilosas.

“Problemas de conduta ou qualquer tema relativo a informações sigilosas ou a controles internos ficavam restritos ao ambiente das empresas. Com as redes sociais, isso se tornou descontrolado e difuso. E, a depender do interesse dos usuários em determinado assunto, a informação se espalha numa velocidade incrível e completamente fora de controle”, destaca.

Atitudes que inspiram!

Armando Costa Neto, mestre em Direito Penal pela Universidade Pompeu Fabra, na Espanha, e CEO do Borlido Costa Neto, relembra que “executivos C’Level lideram pelo exemplo e devem ser os primeiros a cumprir e fazer cumprir os programas de Compliance de suas companhias. A sujeição dos executivos de alto nível à eventuais sanções, inclusive demissões nos casos graves, são fundamentais para gerar adesão de toda a companhia aos programas de Compliance.”

Ainda, Renato Torres afirma que para além das penalidades legais, há um risco de credibilidade em jogo.

“Do ponto de vista reputacional, uma crise originada por uma postagem inadequada pode custar anos de construção de marca. Além disso, vivemos em um ambiente onde stakeholders, investidores, clientes, parceiros e até colaboradores demandam transparência, ética e coerência entre discurso e prática. Por isso, a adesão rigorosa às normas de compliance, especialmente no espaço digital, fortalece a confiança e reduz riscos que podem impactar valor de mercado e credibilidade institucional.”

O advogado e professor Armando Costa Neto diz que não devemos encarar o problema de forma polarizada.  “Justamente pelo fato de os limites entre o público e o privado terem se tornado uma zona cinzenta, é que devemos tentar evitar cair no maniqueísmo de que a exposição em redes sociais será sempre ruim e que a discrição é sempre boa. Temos muitos exemplos de executivos do alto escalão que se expõem em redes sociais e mídias em geral e isso faz parte, inclusive, de seu perfil de administração.”

Por fim, Ricardo Castagna relembra que os executivos “são responsáveis pela manutenção da reputação da empresa, então, é deles principalmente que se espera medidas, estratégias e instrumentos para assegurar a sustentabilidade da empresa em longo prazo em termos de reputação. O julgamento das redes sociais não tem defesa, não tem o devido processo legal. Então, uma boa carreira pode ser destruída também, a depender de quanto o executivo falhar”, completa.

Como não cair em armadilhas!

  • Política clara de uso de redes sociais: ainda que um perfil seja pessoal, deve existir orientação corporativa sobre limites, temas sensíveis e padrões de conduta. O privado e o público se confundem — e o impacto sobre a imagem da empresa é inevitável.
  • Alinhamento com a cultura organizacional: os líderes devem assegurar que seus posicionamentos em redes sociais estejam coerentes com os valores, propósito e princípios da empresa. Isso cria consistência de marca e credibilidade.
  • Gestão preventiva de riscos digitais: implementar treinamentos periódicos e simulações de crise para lidar com eventuais repercussões de publicações inadequadas. A prevenção deve ser parte da estratégia de compliance.
  • Uso estratégico da comunicação: quando bem utilizadas, as redes sociais são um ativo poderoso para reforçar liderança de pensamento, atrair talentos e estreitar laços com stakeholders. O segredo é agir com responsabilidade, autenticidade e consciência do alcance da própria voz. Em síntese, o papel do CEO e demais líderes não é se afastar das redes sociais, mas usá-las de forma estratégica e em conformidade com os princípios de governança e compliance, transformando esse espaço em uma ferramenta de credibilidade e influência positiva.

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