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Geraldo Lamounier mostra sua visão de investidor e aconselha líderes a terem uma melhor performance no setor econômico

Por: Geraldo Lamounier

Geraldo Lamounier, nosso convidado da vez, é um dos sócios fundadores da ETRNTY Family Office, um Multi-Family Office criado com a proposta de auxiliar famílias na gestão de seu patrimônio de forma holística.

Em que mundo vivemos…

Estamos presenciando momentos de grandes transformações e conjuntura complexa que pode trazer profundos impactos não óbvios. Uma Nova Ordem internacional está se formando em decorrência de disputas comerciais entre EUA e China, guerras na Europa e Oriente Médio, e custo de vida subindo globalmente. Este ambiente gerou uma alta fragmentação nas sociedades renascendo o extremismo tanto de direita quanto de esquerda, dado o alto nível de insatisfação, desigualdade social, racismo, intolerância religiosa e poucas perspectivas de melhora. Chegamos à esta situação devido a um longo processo de hiper globalização e transformação tecnológica que não gerou distribuição de renda e nem oportunidades para uma grande maioria das pessoas.

Ao mesmo tempo, estamos observando um agravamento das condições financeiras de vários países desenvolvidos através de um enorme aumento da relação da dívida pública com o PIB, em diversos países muito acima dos 100%, em outras palavras, os países devem aos seus contribuintes e financiadores mais de 1 ano de toda a produção do país. Num cenário de inflação alta e persistente tem levado os bancos centrais manter uma taxa de juros mais alta do que vimos nos últimos 15 anos, o que acarretará aumento do endividamento dos países pelo custo da dívida, além do incremento nos gastos militares dos principais potencias globais que contribuem nos déficits públicos.

É verdade que já vivemos situações como esta no período pós II Guerra mundial, naquela ocasião os governos criaram programas de incentivos financeiros para impulsionar o crescimento econômico e reconstrução de vários países, aliado a uma população mundial que crescia num ritmo acelerado. Hoje vivemos um ambiente bem diferente, observamos o fim do crescimento populacional e consequente envelhecimento da população. Para se ter uma dimensão deste processo, a projeção do China é um encolhimento populacional atual de 1,4 bilhão para 700 milhões até 2100. São menos pessoas trabalhando e consumindo de bens, serviços e imóveis.

Estas transformações globais podem trazem impactos significativos para o Brasil, bons e ruins. No processo de reorganização das cadeias produtivas poderíamos incentivar investimentos em instalações de novas plantas fabris no Brasil para atender o mercado americano, mas pela complexidade fiscal e afastamento ideológico com os EUA estamos perdendo esta oportunidade principalmente para o México.

O nosso principal desafio doméstico é a frágil situação fiscal. O Governo Brasileiro insiste no expressivo aumento real de gastos e o crescimento das receitas mostrando que atingiu o seu limite, consequentemente a sustentabilidade fiscal ficou ainda mais difícil de ser alcançada. A receita primária total do governo central registrou elevação de 8,4% acima da inflação no primeiro semestre de 2024, mesmo assim o governo apresentou déficit público preocupante. Basta lembrar que, nos últimos 12 meses, o setor público brasileiro acumulou um déficit de mais de um trilhão de reais.

Este cenário de incertezas afastou diversos investidores estrangeiros do Brasil, gerando uma forte depreciação do real (impacto na taxa de câmbio) dos últimos meses e consequentemente inviabilizando a continuidade nos cortes de juros.

Outro pilar que poderia ajudar neste tema é a Reforma Tributária, que avança no processo de aprovação. Lembrando que o foco da reforma não é o ajuste fiscal necessário e sim o aumento da eficiência e da produtividade da economia brasileira, sendo reforma neutra do ponto de vista da carga tributária e que não implicasse em perda de receita para os entes federados. Portanto, o equilíbrio fiscal não deverá ser atingido por este caminho. Esta conta ficará para o próximo governo, que terá que fazer ajustes significativos no orçamento e provavelmente terá uma difícil discussão sobre despesas obrigatórias, que a Constituição de 1988 defendeu.

As despesas primárias obrigatórias mantêm uma tendência histórica de crescimento em termos reais, portanto a única válvula de escape para o Executivo é o contingenciamento de despesas discricionárias. Desta forma, começou-se a discutir em que patamar a máquina pública seria inviabilizada, ou seja, qual seria o nível mínimo de execução de despesas discricionárias necessário para a continuidade da prestação dos serviços públicos. Estamos vivenciando esta discussão e claramente gerará tensão entre os 3 poderes.

Nada óbvio para o futuro próximo.

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