17ago

Geraldo Lamounier mostra sua visão de investidor e aconselha líderes a terem uma melhor performance no setor econômico

Por: Renata Filippi Lindquist & Renata Pereira

Geraldo Lamounier, nosso convidado da vez, é um dos sócios fundadores da ETRNTY Family Office, um Multi-Family Office criado com a proposta de auxiliar famílias na gestão de seu patrimônio de forma holística.

O processo de investimento da instituição inicia com um profundo diagnóstico onde mapeam a realidade do patrimônio familiar, as necessidades recorrentes da família, os desejos e sonhos a serem perseguidos, as limitações inerentes aos mercados, ao perfil de risco e o legado a ser perpetuado para as próximas gerações e para a sociedade.

Baseado neste processo, traçam cenários junto às famílias, e através de uma análise atuarial profunda, ajudam a definir o portfólio mais adequado na relação risco vs. retorno, fazendo uma gestão mais eficiente de todo o patrimônio.

Nesse bate-papo, Geraldo vai contextualizar o atual cenário global e nos trazer perspectivas econômicas:

  • Processo de desglobalização com as cadeias produtivas estão sendo reorganizadas;
  • Guerra entre Ucrania e Rússia: importantes produtores de alimentos, fornecedores de fertilizantes, petróleo e gás natural;
  • Forte tensão comercial entre China e Estados Unidos;
  • Drástica mudança na pirâmide populacional mundial.

Diante deste contexto, vamos avaliar como o Brasil deve se comportar no curto e médio prazo.

Apesar da complexidade internacional e de um ambiente político brasileiro muito dividido, Geraldo se mostra ligeiramente otimista com as expectativas brasileiras.

No primeiro semestre, duas reformas importantes foram submetidas para aprovação: i) limite de gastos do Governo Federal e ii) reforma tributária sobre o consumo – pautas típicas de políticos de direita.

Se essas primeiras reformas forem aprovadas na íntegra, entraremos nas discussões de temas com viés mais à esquerda como reforma tributária sobre a renda. Obviamente, devemos presenciar uma maior resistência de parcelas da sociedade, com um ambiente mais hostil com a substituição do presidente do Banco Central no final de 2024, eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados e eleições municipais. Portanto, há uma janela relativamente apertada para estas negociações andarem.

Como a reforma tributária deve impactar a nossa economia?

Como diz meu sócio e CIO responsável pela Área de Investimentos da ETRNTY, Marcelo Brisac, o termo “reforma” diz muita coisa. Toda reforma custa mais do que queríamos, demora mais do que deveria e fica pior do que o esperado. Essa não será diferente.

Há muitas pessoas com uma visão bem otimista sobre o impacto na economia, mas não há nenhuma evidência de que isso deve se materializar. Para se ter ideia, a alíquota do novo imposto não está definida e nem quantos impostos existirão: inicialmente o imposto IVA viria para substituir 5 outros: IPI, ICMS, PIS, COFINS e ISS e, agora com as exceções já previstas, pode-se chegar a 4 impostos.

A aprovação do IVA, claramente simplificará em muito o processo de apuração e recolhimento, mas o contencioso e litígio potenciais devem continuar por um longo período. Haverá questionamentos sobre a legalidade da reforma e sobre aproveitamento dos créditos existentes. Outro ponto complexo é que a transição para o novo imposto acontece entre 2029 e 2033 e a transição da mudança de cálculo da origem para destino acaba em 2078 (o congresso ainda discute encurtar esse período).

Nós na ETRNTY Family Office acreditamos que uma alocação de capital seguindo uma lógica econômica (e não a lógica dos incentivos) deve ajudar o crescimento do PIB entre 0,2% e 0,5% ao ano, muito abaixo da opinião de diversos economistas.

Finalmente, a reforma pode ter um custo muito grande para o governo federal através do fundo de compensação, que irá compensar perdas fiscais e econômicas de algumas regiões. A reforma precisa ser muito bem definida para não virar uma “fábrica de esqueletos”. O Senado está tentando limitar este processo, mas ainda há chances de oportunismos na última hora.

Qual é a sua visão sobre o cenário econômico para o segundo semestre no Brasil?

A economia deve desacelerar para conter a inflação e colocá-la na trajetória da meta. A discussão ficará em torno da intensidade do pouso: esse processo poderá ser influenciado pela conjuntura internacional como mencionei no início e o ambiente político brasileiro.

No 1º trimestre tivemos uma surpresa super favorável do agronegócio, mas os juros ainda altos devem levar a uma desaceleração da economia. Se a economia não desacelerar, o COPOM terá errado no corte do dia 2 de agosto e terá que interromper o ciclo de cortes. O mercado de trabalho está forte e a utilização da capacidade instalada também está alta. Ou a economia desacelera no 2º semestre ou teremos inflação mais persistente e distante do centro da meta.

Há uma grande preocupação com o equilíbrio da relação dívida/PIB. Se o Governo Federal conseguir manter este equilíbrio e gerar superavit fiscal com as reformas propostas, podemos iniciar um período de crescimento do PIB mais robusto e consistente do que vimos nos últimos 20 anos.

Quais setores devem ter melhor performance nessa 2ª parte do ano?

Não analisamos setores individuais da economia. Já é difícil prever a trajetória da economia como um todo, os subsetores são ainda mais difíceis. Deixamos isso para os gestores especializados. Se a economia vai desaquecer, a lógica seria migrar para setores ligados à exportação ou de serviços de utilidade pública (água e saneamento, luz, gás).

De qualquer maneira, a queda de juros influenciará o custo de capital das empresas ajudando nos resultados e talvez alguns projetos de investimentos sejam desengavetados, o que tende a gerar resultados positivos no longo prazo. Não podemos esquecer que há um novo marco de saneamento básico que demanda muitos investimentos e, consequentemente, geração de empregos, sem falar na impactante melhora na saúde pública.

Quais dicas daria para o investidor brasileiro?

Brasileiro adora dica, não é? Isso é um perigo, basta pegar uma “dica” errada 2 ou 3 vezes seguidas para transformar um investidor em um devedor. A gestão de recursos não deveria ser baseada em dicas, pois ninguém sabe o que vai acontecer no futuro. O que nós temos no Brasil é um histórico recente (de 20 anos) de grandes classes de ativos que costumam ter comportamentos mais previsíveis. Para um investidor com um horizonte mínimo de 7 anos (é o período necessário para que esses comportamentos históricos se manifestem) os títulos ligados à inflação (NTN-Bs) são praticamente imbatíveis.

Geraldo conclui que, todo investidor precisa construir um portfólio diversificado, com bons gestores, levando em conta as suas necessidades de liquidez e tolerância a risco. “E a melhor dica que eu posso dar é sugerir que o investidor gaste bastante tempo nessa parte de planejamento (que ninguém gosta de fazer) pois isso contribuirá com 80% dos ganhos que ele vai obter no longo prazo. Todo o resto são quase “detalhes”.

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