25jun

Cenário global atual: desafios e oportunidades para executivos

Por: Geraldo Lamounier, administrador de empresas e sócio fundador da ETRNTY Family Office

O cenário global de 2025 está inserido em um momento crucial, que pode ser interpretado à luz dos ciclos de Hegemonia e Kondratiev. A teoria de Kondratiev está baseada em ondas longas, de cerca de 50 a 60 anos, marcadas por períodos de expansão e recessão tecnológica e econômica. Segundo Geraldo Lamounier, sócio fundador da ETRNTY Family Office, “estamos entrando em uma nova onda do ciclo de Kondratiev, impulsionada por inovações tecnológicas disruptivas e por uma reconfiguração geopolítica que desafia o modelo unipolar do século XX”. Essa nova fase é caracterizada pela ascensão da multipolaridade, com a China e a Rússia emergindo como potências que contestam a hegemonia americana, configurando um ambiente internacional mais fragmentado e volátil.

Os conflitos regionais, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta diretamente a segurança energética global, e as tensões no Oriente Médio envolvendo Israel, Palestina e Irã, além do risco de proliferação nuclear, evidenciam a complexidade desse novo ciclo. “Estamos observando que as disputas por recursos naturais e a pressão das mudanças climáticas não são apenas questões ambientais, mas elementos centrais da geopolítica contemporânea”, destaca Lamounier. A relação entre China e Taiwan, com seu potencial de escalada militar, reforça a instabilidade que permeia esse período de transição.

No âmbito econômico, os Estados Unidos enfrentam desafios internos que refletem a dinâmica do ciclo de Kondratiev. A combinação de inflação persistente, juros elevados e déficit fiscal nominal crescente, por volta dos 8% do PIB, coloca o país em uma posição delicada. “A política monetária restritiva e a crescente dívida pública indicam que os EUA estão lutando para se adaptar ao novo paradigma econômico global, onde o poder está se redistribuindo”. O uso das tarifas como instrumento político amplia a fragmentação econômica, forçando empresas e governos a reavaliar suas estratégias diante de um mercado global cada vez mais imprevisível, provavelmente não trará os resultados esperados pelo Governo Trump.

Para o Brasil, o desafio é duplo. Internamente, o país convive com inflação, juros altos, baixo crescimento e problemas sociais e ambientais que pressionam sua imagem internacional. Externamente, o Brasil tem a oportunidade de se posicionar como um ator central na nova globalização, aproveitando sua economia diversificada e sua diplomacia para atuar como ponte entre blocos econômicos e culturais distintos. “O Brasil pode ser o elo que conecta diferentes mundos, especialmente no fornecimento de alimentos e na segurança alimentar global, setores estratégicos em um ciclo que valoriza recursos naturais e inovação sustentável”, afirma Lamounier.

No entanto, para capitalizar essas oportunidades, o país precisa superar suas vulnerabilidades tecnológicas e políticas, além de fortalecer seu protagonismo em agendas globais. O economista reforça: “A inovação e a sustentabilidade serão os motores que determinarão quem lidera o próximo ciclo econômico e geopolítico. Executivos e líderes que compreenderem essa dinâmica estarão melhor preparados para navegar pelas incertezas e aproveitar as janelas de oportunidade que se abrem”.

Em suma, o mundo vive um momento de transição profunda, onde a teoria do ciclo de Kondratiev oferece uma lente valiosa para entender as transformações em curso. A multipolaridade, as tensões geopolíticas, as disputas por recursos e a revolução tecnológica formam um mosaico complexo que exige visão estratégica, adaptabilidade e liderança. Para o Brasil e seus executivos, o desafio é alinhar seus esforços a essa nova onda, consolidando sua relevância e competitividade no cenário global.

26maio

Inclusão de pessoas surdas na Beiersdorf de Itatiba/SP coloca a fábrica no radar global da companhia

Por: Miguel Mercuri, Head of Human Resources at Beiersdorf

Com coragem e foco no cuidado genuíno, o time de RH deu vida ao projeto #CareBeyondVoice

Para além das obrigações previstas na legislação sobre inclusão de Pessoas com Deficiência, foi dado início a uma mudança concreta na cultura de diversidade da fábrica da Beiersdorf, casa de NIVEA e Eucerin International.

Após observar que a diversidade poderia estar mais presente no dia a dia da operação da unidade de Itatiba, cidade do interior de São Paulo, Miguel M., responsável pelo time de People, junto a sua equipe, desenvolveram o projeto #CareBeyondVoice com o objetivo de abrir caminhos e incluir pessoas com deficiência auditiva e/ou surdez nas rotinas da produção.

Atentos ao Cuidado em todas as etapas na jornada de implementação de #CareBeyondVoice, o primeiro passo se deu com o início da parceria com o Instituto Phala, organização que atende a comunidade surda na cidade de Itatiba. Referência no tema, o instituto oferece cursos de Libras (Língua Brasileira de Sinais) e capacitações para pessoas com deficiência auditiva, preparando-as para o mercado de trabalho.

“Foi algo que aconteceu de forma natural quando notamos que em Itatiba havia essa demanda. Então, começamos a entender como poderíamos dar oportunidade às pessoas com deficiência auditiva e, para isso, precisávamos preparar a fábrica para recebê-las. Fizemos adequações básicas e, com isso, conseguimos promover mais diversidade e transformar a realidade da unidade’’, explica Mercuri.

Após esse período de preparação, dois intérpretes do Instituto Phala capacitaram e ensinaram Libras às lideranças e aos profissionais da operação já atuantes na empresa e outro stakeholders antes da chegada das novas pessoas colaboradoras com deficiência. “Fizemos isso porque todos precisavam se comunicar e esse período de capacitação também fez parte do projeto de inclusão. Ao todo, hoje temos 10 pessoas surdas atuando na manufatura, e nosso objetivo é contratar ainda mais”, destaca o executivo.

RECONHECIMENTO GLOBAL

O projeto ganhou destaque global na Beiersdorf quando a fábrica recebeu a visita de lideranças internacionais. “Recebemos nosso CEO Vincent Warnery, membros do board e executivos de outros países em nossa unidade e, ao apresentarmos o projeto, todos ficaram encantados. Ainda existe o estigma equivocado de que pessoas com deficiência produzem menos, mas a nossa experiência mostra exatamente o contrário: todos atuam em condições de igualdade, com o mesmo desempenho, dedicação e excelência que qualquer outro colaborador” relata Mercuri.

Rapidamente, o case de sucesso se espalhou. As lideranças globais passaram a enxergar a fábrica de Itatiba como uma referência em Diversidade e Inclusão em ambiente fabril e notaram que as ações poderiam ser replicadas em outras instalações da companhia ao redor do mundo.

Miguel M. e seu time então foram convidados a apresentar o projeto em Hamburgo, na Alemanha, sede global da Beiersdorf. “Quando começamos, nem imaginávamos receber todo esse reconhecimento, só queríamos fazer nosso trabalho com foco e seguir o compromisso com a diversidade. Tenho o DNA da diversidade em minha vida, sou imigrante venezuelano e faço parte da comunidade LGBTQIAPN+, então sei a importância de políticas reais de inclusão nas empresas. Fico muito feliz em saber que tivemos um impacto na vida dessas pessoas e pudemos fazer a diferença na cultura da companhia”, celebra Mercuri.

07maio

O que são frontiers firms e que novas habilidades humanas exigem

Empresas desenvolvidas a partir de IA redefinem liderança, produtividade e competitividade. No centro está uma nova figura, o chefe de agentes, aquele que sabe orientar humanos e máquinas

Imagine se antes do final dos 1990 o mundo dos negócios já tivesse compreendido os impactos da internet? Poucos foram capazes. Agora estamos diante de outra transformação — só que desta vez, o motor da mudança é a inteligência artificial (IA) e o nome do jogo é frontier firms.

Popularizado no recente relatório Work Trend Index 2025, da Microsoft, o termo define as organizações que não apenas adotam a IA, mas a colocam no centro de suas operações, equipes e estratégias. Para operar este conceito estão os agentes de IA , que de acordo com a própria IA, se tratam de “sistemas ou programas capazes de executar tarefas autonomamente em nome de um usuário ou outro sistema, projetando seu fluxo de trabalho e utilizando ferramentas disponíveis”. E para tudo isto funcionar é preciso moldar a nova geração de líderes: os chefes de agentes, o profissional que fará a curadoria das decisões entre humanos e máquinas. É provável que poucos conheçam algum, mas eles estão entre nós, assim como a IA.

Ambos fazem parte de um movimento inevitável e que não funcionará sozinho. Segundo o relatório, 82% dos dirigentes globais acreditam que 2025 será um ano decisivo para reestruturar suas estratégias e operações, adaptando-as aos desígnios demonstrados pela IA. No Brasil, o índice de dirigentes salta para 94%. Não se trata apenas de mais uma tendência – é uma ruptura.

O que são

Como nas frontier firms, a IA se torna bem mais que ferramenta, atingindo a condição estratégica de colaborador digital, executando tarefas, resolvendo problemas e ampliando a capacidade humana, seus times exigem a figura do chefe de agentes — digital e humano.

Enquanto empresas ainda ligadas ao digital apenas como ferramenta, nas frontiers os frutos são colhidos. Tanto que globalmente 71% dos trabalhadores dizem que suas organizações estão prosperando — no Brasil, esse índice é ainda maior.

No Brasil

Um exemplo desse movimento é a CloudWalk, fintech brasileira dona da InfinitePay, que criou mais de 40 agentes internos de IA para atuar em áreas como marketing, vendas, design e segurança. Um de seus agentes mais inovadores, o Jim, age como um verdadeiro “funcionário digital”, capaz de criar campanhas, sugerir preços e até oferecer suporte estratégico para pequenos empreendedores. Outro é o Claudio Walker, que responde por 90% dos atendimentos aos mais de 4 milhões de usuários da plataforma.

Outro destaque é o Itaú Unibanco, que anunciou o lançamento de um assistente de investimentos baseado em IA generativa. A proposta é levar, por meio da IA, um atendimento consultivo e personalizado — antes exclusivo para grandes clientes — para toda a sua base de 70 milhões de correntistas.

Inteligência agêntica

Seguindo o ritmo efervescente do Web Summit Rio 2025, onde os agentes de IA dominaram as conversas e os palcos, ficou evidente que essas tecnologias estão ultrapassando o estágio de tendência para se firmarem como protagonistas do presente. árcio Aguiar, da Nvidia, resumiu bem esse momento ao afirmar que vivemos a “era da IA agêntica”, com sistemas que já executam tarefas complexas de modo autônoma, adaptável e escalável. O anúncio da OpenAI com a integração do ChatGPT ao WhatsApp reforçou que gentes de IA conectados ao mundo real estão acessíveis para uso massivo.

Microsoft, por meio de sua presidente Priscyla Laham, e a IBM, com Justina Nixon-Saintil, no Web Summit, apontaram para um novo perfil de liderança, na qual fluência e domínio sobre agentes autônomos serão habilidades cruciais.

A regulamentação, como destacou o ministro do STF Luís Roberto Barroso, precisa acompanhar esse avanço com princípios sólidos, mas sem sufocar a inovação.

Enquanto isso, startups brasileiras como a DigAí, vencedora do Pitch, mostram que o Brasil também está pronto para liderar na criação de agentes inteligentes aplicáveis ao dia a dia — do atendimento via WhatsApp à produção farmacêutica com IA.

O papel do chefe de agentes

Lucia Costa, sócia da Soul HR Consulting, especializada em coaching de executivos, explica: “Nas frontier firms está sendo lançado um novo tipo de liderança. O chefe de agentes precisa dominar a aprendizagem contínua, pois o diálogo com a IA exige uma capacidade constante de adaptação aos inputs da tecnologia”.

Ela ressalta que outra habilidade essencial é a delegação eficaz: “A IA executa tarefas diferentes das que estamos acostumados. Saber o que delegar para humanos e o que pode ser confiado a um agente será um diferencial estratégico”.

Além disso, a liderança ética se torna central. “A IA fará o que for mandada. É fundamental que os comandos respeitem diretrizes claras, como a privacidade e o uso responsável de dados”, alerta a executiva.

Máquinas e humanos

O relatório aponta que 46% das empresas já usam agentes de IA para automatizar processos. Entre as áreas prioritárias: atendimento ao cliente, marketing e desenvolvimento de produtos.

Para garantir eficiência, surge uma nova métrica: a proporção humano-agente. É como uma curadoria biológica que dá freios de arrumação na máquina. Quantos agentes são necessários? Quantos humanos para treiná-los e supervisioná-los? Acertar essa equação será essencial para o sucesso.

E essa mudança atinge todos os níveis da hierarquia. Enquanto 78% dos líderes estão pensando em contratar para novas funções ligadas à IA, apenas 33% cogitam reduzir pessoal. A expectativa é de que a IA libere tempo para que profissionais assumam desafios mais complexos e estratégicos.

Copilot e a nova colaboração

O relatório também marca o lançamento da nova geração do Microsoft 365 Copilot, que agora oferece agentes especializados, integração com plataformas como Jira e Miro, ferramentas de criação com o GPT-4o da OpenAI, e notebooks que transformam dados em insights em tempo real.

Essa evolução tecnológica posiciona o Copilot como a nova interface entre humanos e IA — e reforça a noção de que as empresas que souberem integrar agentes com inteligência estratégica estarão à frente.

O que viria por aí

Assim como a internet criou uma nova geração de profissões, a IA já molda o futuro do trabalho. Para Lucia Costa, a chave será o preparo: “As empresas que investirem agora em capacitação e ética na liderança estarão não só acompanhando a transformação — mas moldando o que vem pela frente.”

Leia o Relatório Anual Work Trend Index no WorkLab.